Tem dificuldade em escrever bem em português? Eis dicas que podem ajudar
As autoras do livro ‘Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa’ conversaram com o Notícias ao Minuto e revelaram quais são algumas das maiores dificuldades dos portugueses no que à escrita diz respeito.
Tem dificuldade em escrever bem em português? Eis um livro que o ajudará
© iStock
Será ‘ao invés de’ ou ‘em vez de’? Quando é que se usa ‘aferir’ e não ‘inferir’? Estes são apenas dois dos 143 exemplos que Sandra Duarte Tavares e Sara de Almeida Leite explicam no livro ‘Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa’ editado pela Planeta em julho deste ano.
Mas esta não é obra única. Nem no que diz respeito ao tema, nem no que concerne às autoras. As duas professoras de Língua Portuguesa já lançaram ‘Assim É Que É Falar’, ‘Gramática Descomplicada’ e o livro que antecedeu aquele de que hoje falamos, ‘Pares Difíceis da Língua Portuguesa’.
Sandra e Sara dizem-nos que ler muito não é sinónimo de ler com qualidade e que esta é uma questão que está diretamente relacionada com as dificuldades que os portugueses têm em expressar-se através da escrita.
A forma de lecionar a língua materna e a falta de entusiasmo dos alunos para aprender gramática é outra das questões abordadas nestaco
Quanto ao livro, poderá encontrar, na galeria acima, alguns exemplos que retirámos da obra para lhe aguçar a curiosidade.
Este não é o primeiro livro que escrevem. Como surgiu a primeira oportunidade?
Nós somos professoras de Língua Portuguesa e trabalhamos juntas há muito tempo. Num certo dia, uma de nós teve um clique: ‘E se publicássemos um livro sobre bom uso da língua portuguesa?’ Fizemos a proposta a uma editora, em 2007, e assim surgiu o primeiro dos cinco livros em conjunto!
Há mais livros na calha?
Podemos confessar que já criámos um ficheiro com uma lista de pares de palavras que poderão estar na base do terceiro volume desta obra. É possível que venham a ser publicados ‘Ainda Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa’!
Há algum tema que ainda não tenham abordado, mas que queiram muito fazê-lo?
Sim! Há temas que lecionamos e que ainda não trabalhámos, no sentido de converter os nossos materiais pedagógicos em publicações. Nomeadamente, sobre a aquisição da língua materna, sobre a dicotomia norma/uso da língua portuguesa e sobre as diferenças entre a oralidade e a escrita.
Os portugueses escrevem mal?
Seríamos irrealistas se respondêssemos que não e seríamos imprudentes se disséssemos que sim. O que queremos dizer com isto? Se a comunicação, oral e escrita, é feita por meio das palavras, quanto mais contacto tivermos com a palavra bem escrita, com a frase bem construída e com o texto bem articulado, a nossa escrita será, com certeza, uma escrita competente. Ora, isto é o mesmo que dizer: se queremos escrever bem, devemos ler muito e bem. Quem tem hábitos de leitura terá, certamente, uma maior facilidade em escrever.
A Língua Portuguesa é ensinada da forma mais correta e apelativa nas escolas?
Acreditamos que, na generalidade, os professores se esforçam por incentivar os alunos a encarar a aprendizagem da gramática e da literatura de forma positiva. Também os manuais de língua portuguesa permitem concluir que há um esforço, por parte dos autores e das editoras, para tornar as matérias e os textos o mais apelativos possível. No entanto, sabemos que muitos alunos passam grande parte do tempo desmotivados em relação às aulas e às matérias. Há muitos fatores que desfavorecem o entusiasmo pela aprendizagem, como a obrigação de aprender uma quantidade de conceitos e de ler certos textos, a pressão causada pelas avaliações e a necessidade de cumprir o programa e as metas curriculares.
Concordam que os alunos possam passar de ano tendo negativa a Língua Portuguesa?
Não concordamos. As competências desenvolvidas na disciplina de Língua Portuguesa são fundamentais para a aprendizagem de qualquer área disciplinar. Por exemplo, para interpretar corretamente um problema de matemática, o aluno tem de ser capaz de compreender bem o que lê para conseguir solucionar o problema. Acreditamos que, no acesso ao mercado de trabalho, as competências adquiridas na disciplina de Língua Portuguesa podem ser um fator decisivo na seleção de um candidato a um emprego.
O que é mais difícil na Língua Portuguesa?
Para um falante estrangeiro, uma das maiores dificuldades prende-se com a pronúncia de certos sons. Os ditongos ‘ãe’, ‘ão’, ‘ões’ são exemplos disso.
Para um falante que tem o português como língua materna, consideramos que a sintaxe (estrutura das frases) e a morfologia (conjugações e flexões) são as áreas em que revela mais fragilidades. O plural de certas palavras compostas é também um autêntico quebra-cabeças!
Quais são os erros mais comuns que os portugueses cometem na escrita?
Continua a ser recorrente a hesitação entre as palavras há/à; a redação das formas verbais vêm e veem e de expressões que nunca se escrevem aglutinadamente: com certeza, de repente, a fim de, a partir de. Os acentos gráficos também suscitam muitas dúvidas: as palavras órgão e bênção têm acento gráfico, mas os verbos que derivam de pôr não têm: dispor, propor, impor, etc.
São igualmente erros muito frequentes os seguintes: mau-estar (em vez de mal-estar), aderência à greve (em vez de adesão à greve), fatura descriminada (em vez de discriminada), pessoas evacuadas (em vez de lugares evacuados), ir de encontro às expectativas (em vez de ir ao encontro das expectativas), entre tantos outros.
Os portugueses leem o suficiente?
Provavelmente sim, se pensarmos em termos de quantidade. No entanto, se utilizamos o verbo ‘ler’ no sentido de interpretar obras literárias, então diríamos que não leem o suficiente (falando em termos gerais e sem prejuízo das exceções, claro). Por um lado, há falta de tempo, por outro, há falta de disponibilidade para leituras mais profundas, lentas e solitárias, sobretudo porque existe uma superabundância de estímulos mais atraentes, como as redes sociais e os programas de entretenimento.
Como é que se pode incentivar uma criança que não gosta de ler a fazê-lo?
Não é fácil, até porque muitas vezes os adultos também não têm o hábito de ler por prazer. Nesse sentido, talvez seja importante começarmos por garantir que a criança toma contacto regular com pessoas que se dedicam à leitura com interesse e entusiasmo. Também é importante dar à criança muitas oportunidades de descobrir quais as leituras que a cativam: para isso é preciso que ela tenha tempo livre e que possa conhecer uma grande variedade de textos. Finalmente, é conveniente reconhecer que os ecrãs adquiriram uma tal importância na vida das novas gerações, que pode ser vantajoso oferecer à criança a possibilidade de ler nesse suporte, se houver meios financeiros para isso.
Sandra e Sara dizem-nos que ler muito não é sinónimo de ler com qualidade e que esta é uma questão que está diretamente relacionada com as dificuldades que os portugueses têm em expressar-se através da escrita.
A forma de lecionar a língua materna e a falta de entusiasmo dos alunos para aprender gramática é outra das questões abordadas nestaco
Quanto ao livro, poderá encontrar, na galeria acima, alguns exemplos que retirámos da obra para lhe aguçar a curiosidade.
Este não é o primeiro livro que escrevem. Como surgiu a primeira oportunidade?
Nós somos professoras de Língua Portuguesa e trabalhamos juntas há muito tempo. Num certo dia, uma de nós teve um clique: ‘E se publicássemos um livro sobre bom uso da língua portuguesa?’ Fizemos a proposta a uma editora, em 2007, e assim surgiu o primeiro dos cinco livros em conjunto!
Há mais livros na calha?
Podemos confessar que já criámos um ficheiro com uma lista de pares de palavras que poderão estar na base do terceiro volume desta obra. É possível que venham a ser publicados ‘Ainda Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa’!
Há algum tema que ainda não tenham abordado, mas que queiram muito fazê-lo?
Sim! Há temas que lecionamos e que ainda não trabalhámos, no sentido de converter os nossos materiais pedagógicos em publicações. Nomeadamente, sobre a aquisição da língua materna, sobre a dicotomia norma/uso da língua portuguesa e sobre as diferenças entre a oralidade e a escrita.
Os portugueses escrevem mal?
Seríamos irrealistas se respondêssemos que não e seríamos imprudentes se disséssemos que sim. O que queremos dizer com isto? Se a comunicação, oral e escrita, é feita por meio das palavras, quanto mais contacto tivermos com a palavra bem escrita, com a frase bem construída e com o texto bem articulado, a nossa escrita será, com certeza, uma escrita competente. Ora, isto é o mesmo que dizer: se queremos escrever bem, devemos ler muito e bem. Quem tem hábitos de leitura terá, certamente, uma maior facilidade em escrever.
A Língua Portuguesa é ensinada da forma mais correta e apelativa nas escolas?
Acreditamos que, na generalidade, os professores se esforçam por incentivar os alunos a encarar a aprendizagem da gramática e da literatura de forma positiva. Também os manuais de língua portuguesa permitem concluir que há um esforço, por parte dos autores e das editoras, para tornar as matérias e os textos o mais apelativos possível. No entanto, sabemos que muitos alunos passam grande parte do tempo desmotivados em relação às aulas e às matérias. Há muitos fatores que desfavorecem o entusiasmo pela aprendizagem, como a obrigação de aprender uma quantidade de conceitos e de ler certos textos, a pressão causada pelas avaliações e a necessidade de cumprir o programa e as metas curriculares.
Concordam que os alunos possam passar de ano tendo negativa a Língua Portuguesa?
Não concordamos. As competências desenvolvidas na disciplina de Língua Portuguesa são fundamentais para a aprendizagem de qualquer área disciplinar. Por exemplo, para interpretar corretamente um problema de matemática, o aluno tem de ser capaz de compreender bem o que lê para conseguir solucionar o problema. Acreditamos que, no acesso ao mercado de trabalho, as competências adquiridas na disciplina de Língua Portuguesa podem ser um fator decisivo na seleção de um candidato a um emprego.
O que é mais difícil na Língua Portuguesa?
Para um falante estrangeiro, uma das maiores dificuldades prende-se com a pronúncia de certos sons. Os ditongos ‘ãe’, ‘ão’, ‘ões’ são exemplos disso.
Para um falante que tem o português como língua materna, consideramos que a sintaxe (estrutura das frases) e a morfologia (conjugações e flexões) são as áreas em que revela mais fragilidades. O plural de certas palavras compostas é também um autêntico quebra-cabeças!
Quais são os erros mais comuns que os portugueses cometem na escrita?
Continua a ser recorrente a hesitação entre as palavras há/à; a redação das formas verbais vêm e veem e de expressões que nunca se escrevem aglutinadamente: com certeza, de repente, a fim de, a partir de. Os acentos gráficos também suscitam muitas dúvidas: as palavras órgão e bênção têm acento gráfico, mas os verbos que derivam de pôr não têm: dispor, propor, impor, etc.
São igualmente erros muito frequentes os seguintes: mau-estar (em vez de mal-estar), aderência à greve (em vez de adesão à greve), fatura descriminada (em vez de discriminada), pessoas evacuadas (em vez de lugares evacuados), ir de encontro às expectativas (em vez de ir ao encontro das expectativas), entre tantos outros.
Os portugueses leem o suficiente?
Provavelmente sim, se pensarmos em termos de quantidade. No entanto, se utilizamos o verbo ‘ler’ no sentido de interpretar obras literárias, então diríamos que não leem o suficiente (falando em termos gerais e sem prejuízo das exceções, claro). Por um lado, há falta de tempo, por outro, há falta de disponibilidade para leituras mais profundas, lentas e solitárias, sobretudo porque existe uma superabundância de estímulos mais atraentes, como as redes sociais e os programas de entretenimento.
Como é que se pode incentivar uma criança que não gosta de ler a fazê-lo?
Comentários
Enviar um comentário
Obrigado pelos teus comentários