Somos Cabo Verde – Os piores do ano
Na passada semana saiu uma notícia a divulgar que “as famílias cabo-verdianas gastam em bebidas alcoólicas mais do dobro do que em educação e o mesmo que em saúde”, revelam os dados apresentados numa campanha nacional de prevenção do consumo abusivo de álcool, o que revela esse estudo é algo que todos sabem no entanto beneficia de uma “enorme tolerância social” em Cabo Verde. Há quem diga que isso não é novidade, que existe uma certa ilusão de que o cabo-verdiano de outrora tinha valores diferentes e consumia álcool e substâncias alucinantes em “ocasiões especiais” mas “fladu fla ka ta skrebedu” e se calhar o “txoma minis” incluiu esses ingredientes vezes sem conta. A nossa sociedade atual vive num estado de perplexidade, onde sem “sabura” não há alegria, onde a juventude “só quando é abusada é que se diz bem vivida”, onde pais de família investem mais na amante e no “copo” do que na educação dos filhos, onde os dirigentes vão ao parlamento discutir a vida pessoal enquanto o povo se acomoda no grogue (aguardente de cana) de especiarias misteriosas, mas enfim, somos Cabo Verde. Para observar o “estado das coisas” na sociedade atual berdiana, basta assistirmos às jornadas parlamentares na Televisão de Cabo Verde para verificarmos o nível de mediocridade presente, é caso para se dizer que é onde encontramos de tudo um pouco. A gala Somos Cabo Verde neste fim de semana “tchomou munti minis” de diversas faixas etárias e esferas da sociedade com objetivo de prestigiar diversas figuras, associações e grupos que têm contribuído para o desenvolvimento de Cabo Verde, segundo a organização, sendo que dentro deste âmbito os melhores dos melhores foram apresentados ao público como modelos de referência e motivo de orgulho. Momento belo e marcante, onde durante o mesmo, reproduziu-se a canção do momento e do ano, a música “Tchoma Minis”, apresentado pelo próprio Sakis di Praia, uma música que causou furor em tempo de campanhas políticas e ainda causa euforia no público em geral. Música atual e moderna que faz jûs ao contexto atual vivido nas ilhas, contabilizando mais um hino ao repertório musical da nossa sociedade civil. Ouvir tal hino numa gala de tamanho mediatismo, onde crianças e menores auscultaram a melodia do “tem weed”, numa versão “A live”, autêntica e sem censura às letras que podiam influenciar os mais sensíveis. Caso para se dizer que valorizamos a música seja ela qual for e para quem for, não importa se as letras fazem uma apologia descarada ao consumo de droga, álcool e sexo. Normal!! Desde criança que cresci a ouvir na rádio e assistir na tv cânticos “Poi mon na txon”, “Tra Rabu”, “Eskua ma Titiu”, etc, quando nem sabia o que “eskua” significava mas divirtia-me no ritmo das melodias sem descrepância. Questiono-me agora, será que tanta apologia ao sexo não influenciou-me a iniciar a minha vida sexual antes de eu mesmo estar preparado e informado para tal, talvez sim ou talvez a precocidade já estava nas veias :P. A minha atitude poderia ser igual ou também diferente, só deus sabe. Um jovem ou uma criança na formação da sua personalidade/identidade é um sujeito vulnerável e numa sociedade podre de adultos acomodados, a “caipirinha do diabo” estará de oferta em todas esquinas. E a culpa de um “bom caminho” ou um “mau caminho” é da música, da família, do vizinho, do professor, dos dirigentes políticos…É um baile imprevisível onde a culpa dança com todos.
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