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De mais e de mais

Demais ou de mais? é uma das dúvidas – e confusões – mais frequentes no português corrente, razão, de resto, de permanentes perguntas de quem consulta o Ciberdúvidas. Vejamos esta dúvida de um leitor do jornal 24 Horas1: «Nenhuma vida é demais» ou «Nenhuma vida é de mais»?
Defendo que deverá escrever-se «Nenhuma vida é de mais». Quando se pretende exprimir a noção de quantidade, deve utilizar-se a locução adverbial de mais. No caso, pretende dizer-se que «não existe nenhuma vida a mais» («de sobra», «além do devido ou necessário»).
Demais, uma só palavra, pode ser um pronome ou um determinante demonstrativo, equivalente a «outros», «outras», «restantes». Exemplos: «Foram visitar a igreja só três excursionistas; os demais ficaram a apanhar sol no jardim.» «Toda a gente já ouviu falar de Miguel Torga, de Fernando Pessoa, de Luís de Camões e dos demais escritores referidos naquele programa de televisão.»
Demais (ou ademais), uma só palavra, também pode ser um advérbio que significa «além disso», «de resto». Exemplos: «O trabalho é muito difícil; demais, é mal pago.» «Não lhe obedeças; demais, essa determinação não está no regulamento.»
Demais, uma só palavra, pode ainda ser um advérbio de modo, que exprime a intensidade e significa «muitíssimo», «excessivamente», «em demasia», «demasiadamente». Emprega-se intensificando formas verbais, advérbios ou adjectivos. Exemplos: «Aquele rapaz dorme demais.» «A jarra é frágil demais; vai partir-se.» «Para aquele pasquim, ele escreve bem demais.»
De mais, duas palavras, é uma locução adverbial (formada pela preposição de e pelo advérbio mais) que exprime a ideia de quantidade. Tem um significado equivalente a «a mais» e aparece ligada a substantivos. É de quantidade que se trata, e não de intensidade. Exemplos: «Comprei discos de mais» (comprei mais discos do que devia); «São de mais os livros que tenho para ler» (são mais livros do que aqueles que tenho tempo ou disposição para ler; são livros a mais); «O chá tem açúcar de mais» (tem mais açúcar do que devia).
Na frase em causa, estamos perante um substantivo (vida), pelo que parece ser a quantidade que está em causa, e não a intensidade. 
1 edição de 15 de Fevereiro de 2007

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