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Textos jornalísticos nota noticia reportagem crónica

Entenda a diferença entre nota, notícia e reportagem

Meme_Chaves
*Patrícia Paixão
“Que notícia interessante, meu filho!”, diz sua mãe, apontando para um editorial ou uma crônica.
Para o leigo, todos os textos que aparecem em um jornal são “notícias”, mesmo aqueles que pertencem ao gênero opinativo, no qual claramente prevalece a visão de mundo do jornalista.
Quem conhece os gêneros jornalísticos sabe que isso é um grande equívoco. Existem diversos tipos de textos em um veículo e é preciso saber diferenciá-los.
Fico espantada quando às vezes pego alunos no último ano do curso de Jornalismo que ainda não sabem diferenciar notícia de reportagem, artigo  de editorial, crônica de resenha e assim por diante. Seria o mesmo caso do médico que está se formando confundindo o rim com o fígado, o coração com o pulmão!
No post de hoje vamos falar das diferenças entre três tipos textuais bastante trabalhados no gênero informativo (gênero no qual não devemos colocar a nossa opinião sobre o fato, atendo-se apenas a informar o que aconteceu): a nota, a notícia e a reportagem (embora vários autores considerem este último texto como pertencente ao gênero interpretativo, como explicaremos a seguir).
Vamos lá?
*NOTÍCIA
É um texto que faz o relato de um fato que acabou de eclodir na sociedade. É essencialmente factual, ficando velha em poucas horas. Então, para saber se é notícia, basta pensar: Esse texto poderia ser publicado amanhã ou ficaria obsoleto? Se ficar velho, com certeza é notícia.
É o puro registro do fato, sem comentário ou interpretação. Não tem o objetivo de abordar as causas e consequências do acontecimento, apenas informá-lo da forma mais simples possível.
Deve trazer as aspas (declarações) dos envolvidos na história.
É a matéria-prima do jornalismo, pois, geralmente, somente depois que os assuntos são divulgados é que eles são comentados e interpretados. Ou seja, na maioria das vezes para a reportagem, o artigo ou um editorial existir, é preciso que haja uma notícia que os instigue.
No idioma inglês notícia é news”. Esse termo foi formado a partir das iniciais dos pontos cardeais (North, East, West e South). Assim a notícia é encarada como um fato novo, “quente”, que tem o potencial de ser difundido para todas as direções, atingindo o maior número de pessoas.
É o tipo textual predominante nos veículos jornalísticos. Boa parte do conteúdo dos jornais impressos, radiojornais, telejornais e, em especial webjornais, é formada por notícias, em especial no atual cenário em que os leitores privilegiam a informação rápida e objetiva, e em que muitas redações têm reprimido o gênero reportagem (ainda que inconscientemente), que envolve tempo e dinheiro, afinal, para se fazer reportagem de verdade é preciso ir pra rua, ouvir muita gente, pesquisar muito. Em tempos de passaralhos e cortes de custo isso é complicado.
  • Texto
Quanto à estrutura do texto, como trabalha com o factual, o texto da notícia segue a estrutura da pirâmide invertida, com as informações mais importantes sobre o fato aparecendo no primeiro parágrafo (lide – que responde às perguntas o quê, quem, quando, onde, como e por quê)).As informações são apresentadas em ordem decrescente (do mais importante para o menos importante). Posteriormente, constrói-se o sublide (outras informações relevantes relacionadas ao lide). Passa-se, nos demais parágrafos, a detalhar pontos da história até terminar o texto com os aspectos menos relevantes.
Lide
As declarações dos entrevistados podem entrar no texto na forma:
  • Direta:  “O  corte no Orçamento de 2011 irá ajudar o governo a manter as contas em dia”, afirma o  ministro  da Fazenda, Joaquim Levy.
  • Indireta: Segundo o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o corte  no Orçamento de 2011  ajudará na manutenção das contas do governo.
  • Mista: Para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o corte no Orçamento de 2011 “irá ajudar o governo a manter as contas em dia”.
Outras regrinhas: O texto deve ser impessoal (a primeira pessoa é proibida, tanto no singular como no plural. Ou seja, nada de: “Em entrevista concedida a mim…”); objetivo e imparcial (evitar a subjetividade e os adjetivos. Adjetivos só são aceitos se trouxerem informação. Os que trazem juízo de valor devem ser evitados); conciso (não ter mais vocábulos que o necessário. Muitas vezes em texto menos é mais); preciso (trazer dados exatos, sem generalizações); escrito com frases curtas e na ordem direta (sujeito – verbo – predicado), para facilitar o entendimento do leitor;  além de coeso e coerente (ter uma relação lógica e “bem costurada” entre seus parágrafos).



*REPORTAGEM
A reportagem é um texto mais aprofundado que a notícia, ou pelo menos deveria ser. É o gênero mais nobre do Jornalismo. Vai além de informar, pois oferece uma interpretação do fato ao leitor, mostrando suas possíveis origens, razões e efeitos.
Na reportagem, o jornalista, com base na consulta a diversas fontes e numa ampla pesquisa (inclusive de campo), traça um DIAGNÓSTICO do fato. Portanto, quanto maior for o número e qualidade dos entrevistados e a pesquisa feita, melhor será a reportagem.
Como oferece um aprofundamento do fato, alguns estudiosos a classificam como um texto do gênero interpretativo, que se diferencia do meramente informativo e da simples opinião.
Exemplo: Noticiar as manifestações de 13 de dezembro de 2015 contra a presidente Dilma Rousseff é informativo. Criticar ou elogiar essas manifestações é opinativo. Já analisar as causas e o impacto desses protestos na aceleração ou não do processo de impeachment seria interpretativo, ou seja, papel da reportagem.
Como diz Eugênio Bucci,  no texto de apresentação que escreveu para o livro “A arte da reportagem”, de Igor Fuser, “a reportagem, como a arte, tem a necessária pretensão de iluminar o significado, de apontar uma direção acima do caos dos eventos cotidianos.”
Ou seja, informar os eventos cotidianos é função da notícia, mas a reportagem precisa ir além. Ela deve mostrar o que está por trás da grande avalanche de notícias que vemos no dia a dia, o que vem acontecendo na sociedade, em qual direção estamos rumando. Não adianta, por exemplo, ficar apenas noticiando dia a dia as diversas chacinas que acontecem nas periferias de São Paulo. É preciso fazer uma reportagem para sabermos por que essas chacinas vêm ocorrendo e o que pode ser feito para evitá-las.
A reportagem geralmente tem como ponto de partida uma notícia.
  • Texto
O texto da reportagem precisa ser atrativo, bem trabalhado. Não pode ser um relato frio do fato, como faz a notícia.
Deve ser aberto com um bom lide, que consiga fisgar o leitor, mantendo-o no texto. O lide da reportagem tende mais ao não factual, ou seja, não tem a necessidade de logo de cara responder às seis questões essenciais sobre o fato. O repórter pode abrir o texto, por exemplo, descrevendo, com riqueza de detalhes e caracterização dos personagens, uma das cenas que presenciou do fato.
Muitas vezes a reportagem trabalha a humanização, por meio da sensibilidade e observação do repórter, para contar a história de maneira instigante.
É importante que a reportagem também conte com uma boa programação visual (bom uso dos elementos gráficos, infografia e fotografia). Em reportagem costuma-se usar, além do título, subtítulo, intertítulos e olhos. Como é um texto mais longo, esses elementos gráficos são muito importantes para manter o leitor no texto, pois funcionam como “iscas”.
ELEMENTOS
A forma como as declarações dos entrevistados entram no texto é a mesma que explicamos acima, para a notícia.  Em jornais diários a reportagem não é tão explorada como em veículos com periodicidade maior, como a revista.





*NOTA
É um texto curto (média de 15 linhas) que traz as informações básicas sobre o fato, sem aprofundamento. Produzir uma nota é ir um pouco além do lide. Normalmente não traz aspas (declarações dos envolvidos no fato).
Seu estilo de redação é muito parecido com o da notícia. Ou seja, tem-se um relato mais objetivo e frio do fato.
O que pode gerar uma nota?
Um fato que já ocorreu, mas que não teve tanta relevância perto de outros que viraram notícia, por isso só merece um registro. ou  Um fato que está em processo de configuração (que ainda vai acontecer ou que já está acontecendo). Nesse caso o relato é curto, pois ainda não há muitas informações a respeito
Exemplo de nota:
"Bem, espero tê-lo ajudado a identificar esses três tipos textuais do jornalismo e a decidir quando optar por um ou por outro. Em postagens futuras, falaremos sobre outros gêneros jornalísticos. Continue nos acompanhando 🙂"

 A Crónica
A crónica difere da notícia, e da reportagem porque, embora utilizando o jornal ou a revista como meio de comunicação, não tem por finalidade principal informar o destinatário, mas reflectir sobre o acontecido. Desta finalidade resulta que, neste tipo de texto, podemos ler a visão subjectiva do cronista sobre o universo narrado. Assim, o foco narrativo situa-se invariavelmente na 1ª pessoa.

Poeta do quotidiano, como alguém chamou ao cronista dos nossos dias, apresenta um discurso que se move entre a reportagem e a literatura, entre o oral e o literário, entre a narração impessoal dos acontecimentos e a força da imaginação. Diálogo e monólogo; diálogo com o leitor, monólogo com o sujeito da enunciação. A subjectividade percorre todo o discurso.

A crónica não morre depressa, como acontece com a notícia, mas morre, e aqui se afasta irremediavelmente do texto literário, embora se vista, por vezes, das suas roupagens, como a metáfora, a ambiguidade, a antítese, a conotação, etc.  A sua estrutura assemelha-se à de um conto, apresentando uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão.

               ardina.jpg (8551 bytes)Ardina                                  
Aquele rapazinho que todas as tardes, ao fim da tarde, anda a vender jornais por entre carros que estão quase a parar, que estão quase a arrancar, na faixa central da Avenida, não repara que a morte lhe passa tangentes constantes. É decerto um rapazinho que ainda não conhece nada da morte, nem mesmo quer saber se ela existe. Sabe-se leve e rápido, sabe que tem bons reflexos. Por isso, arrisca. Ao menino e ao borracho, diz o povo... Mas eu lembro-me, sempre que o vejo, sempre que por uma ou por outra razão subo a Avenida dentro de um dos traçadores de tangentes (não quero pensar em secantes), de um conto que li em tempos, porque ai esta nossa cultura livresca... Não sabíamos nada, ainda pouco sabemos, das pessoas vivas, de como elas vivem e lutam, mesmo só aqui, nesta nossa cidade, grande e confusa cabeça do corpo frágil que é Portugal, e vamos recordar um ardina de papel, um rapazinho pequeno encontrado há muitos anos num livro, brasileiro ainda por cima. Era também, salvo erro, um rapazinho numa cidade grande, um menino de periferia, do morro, talvez. Ao que me lembro vendia jornais e pendurava-se nos eléctricos para chegar mais depressa ou talvez por aventura, sim, creio que era por aventura, que o fazia. Até ao dia em que caiu e a aventura terminou. Recordo esse ardina dentro de um livro, ao olhar para este, dentro da vida, e a brincar - a brincar? - com a morte, ziguezagueando, por entre ela, enquanto apregoa os jornais da tarde.
Cuidado menino, estou quase a gritar. Mas nunca vou a tempo. Porque a luz está, de súbito, verde, e ele está, de súbito, longe. Dir-se-á que andam à mesma velocidade, ele e a luz.
Maria Judite Carvalho, O Homem do Arame (1979)




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Carta aos 19%



 

A tua necessidade de arranjar um emprego está muito acima das tuas possibilidades. É possível que a tua necessidade de comer também esteja


Caro desempregado,
Em nome de Portugal, gostaria de agradecer o teu contributo para o sucesso económico do nosso país. Portugal tem tido um desempenho exemplar, e o ajustamento está a ser muito bem-sucedido, o que não seria possível sem a tua presença permanente na fila para o centro de emprego. Está a ser feito um enorme esforço para que Portugal recupere a confiança dos mercados e, pelos vistos, os mercados só confiam em Portugal se tu não puderes trabalhar. O teu desemprego, embora possa ser ligeiramente desagradável para ti, é medicinal para a nossa economia. Os investidores não apostam no nosso país se souberem que tu arranjaste emprego. Preferem emprestar dinheiro a pessoas desempregadas.
Antigamente, estávamos todos a viver acima das nossas possibilidades. Agora estamos só a viver, o que aparentemente continua a estar acima das nossas possibilidades. Começamos a perceber que as nossas necessidades estão acima das nossas possibilidades. A tua necessidade de arranjar um emprego está muito acima das tuas possibilidades. É possível que a tua necessidade de comer também esteja. Tens de pagar impostos acima das tuas possibilidades para poderes viver abaixo das tuas necessidades. Viver mal é caríssimo.
Não estás sozinho. O governo prepara-se para propor rescisões amigáveis a milhares de funcionários públicos. Vais ter companhia. Segundo o primeiro-ministro, as rescisões não são despedimentos, são janelas de oportunidade. O melhor é agasalhares-te bem, porque o governo tem aberto tantas janelas de oportunidade que se torna difícil evitar as correntes de ar de oportunidade. Há quem sinta a tentação de se abeirar de uma destas janelas de oportunidade e de se atirar cá para baixo. É mal pensado. Temos uma dívida enorme para pagar, e a melhor maneira de conseguir pagá-la é impedir que um quinto dos trabalhadores possa produzir. Aceita a tua função neste processo e não esperneies.
Tem calma. E não te preocupes. O teu desemprego está dentro das previsões do governo. Que diabo, isso tem de te tranquilizar de algum modo. Felizmente, a tua miséria não apanhou ninguém de surpresa, o que é excelente. A miséria previsível é a preferida de toda a gente. Repara como o governo te preparou para a crise. Se acontecer a Portugal o mesmo que ao Chipre, é deixá-los ir à tua conta bancária confiscar uma parcela dos teus depósitos. Já não tens lá nada para ser confiscado. Podes ficar tranquilo. E não tens nada que agradecer.

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